February 16, 2008


ah, eu não vou mentir: eu queria acordar utilizando palavras como 'nuances', 'penúmbra' nos meus tão pobres e não-sofisticados escritos. queria acordar com um vocabulário requintado, com textos que mudassem as estruturas da literatura mundial, proferindo as declarações mais incríveis, fazendo com que leitores, boquiabertos, ficassem absortos em pensamentos de 'ela conseguiu exteriorizar tudo o que eu sinto em pura poesia. que gênio!'. mas não. nem acordei hoje, nem acordarei amanhã assim. continuo sem saber de sonetos; não consigo criar mirabolantes metáforas; nem cordel, está entre os meus dotes (embora eu assuma que possa fazer riminhas graciosas). bem, pelo menos assim, eu posso exercitar meu egoísmo e guardar tudo o que é meu pra mim. como já, sabiamente, disse lygia - ela sim sabe muito bem como usar as palavras - 'escrever sem pensar em publicar', mas não por amor ao inútil e sim, por não querer fazer papel de idiota pelos livros mundo afora.
eu sei que, às vezes, fica até difícil de acreditar nessa coisa miraculosa de 'é-você-quem-toma-as-rédeas-da-sua-vida', mas, pense bem, num mundo onde um puddle cadente matou três pessoas, se você está morrendo de tédio, a culpa é toda sua.


February 15, 2008

...

sei que a solidão é dura às vezes de aguentar; mas, se é dificil carregar a solidão, mais dificil ainda é carregar uma companhia. a companhia resiste, a companhia tem uma saúde de ferro. tudo pode acabar em redor e a companhia continua firme, pronta a virar qualquer coisa para não ir embora: mãe, irmã, enfermeira, amigo...


February 14, 2008


e o que eu ganhei com as minhas quase duas décadas de eu-não-quero-não-devo-e-nem-posso-me-comprometer?
um coração livre pra pular de um abismo: ele ficava alegre nos três primeiros minutos da aventura, mas percebia que estava sem para-quedas e acabava por se esborrachar no chão.

February 12, 2008


na aula, na praça, na praia, no carnaval, na cidade de interior, na igrejinha, nas grandes festas, na esquina do prédio, na banca de revistas, na padaria, no quarto do hotel, em toda a universidade, no círculo de amizades, no café do aeroporto, no clube de tênis, na roda gigante, na quitanda, no meio da rua, na biblioteca, dentro do cinema, na porta do teatro, no jogo de futsal, no cyberespaço, na casa da vizinha, no carteado de sábado, no desfile das misses, na praça de alimentação, no restaurante chique, no boteco de beira de estrada, na fila do banco, no show dos hermanos, no estacionamento, no apertado do ônibus, no jardim de infância, na sorveteria, na sapataria, na livraria, em todo lugar que eu ia. em cima da mesa, embaixo da pia, dentro da carteira, na cama vazia, dentro do estojo, no bojo do sutiã, no cesto de roupas sujas, no bolso da calça que não cabe mais, na sacola do lixo, dentro do microondas, embaixo do tapete, atrás do espelho, perto do relógio, na gaiola da cacatua, na areia do gato, na caixa de cds, ao lado do telefone...

talvez 'o gerry' estivesse em cada canto que eu procurei e em cada lugar que eu deixei passar.

'tudo talvez gire em torno de alguém', acho que é por isso que tá tudo parado. enquanto ninguém aparece para ser a força motriz da minha vida, ela tá estática, em preto-e-branco, empoeirada, tediosa e sem sentido. como uma criança espera a mãe chegar da loja com um brinquedo novo; um cachorro, ao ouvir o motor do carro, espera seu dono na porta; e uma flor espera um outono ir embora pra poder dar o ar da graça, eu espero o roteirista da minha vida sair da greve. e que ele me tire de casa, me mude de rumo, destrua o meu caminho, construa a minha ponte, me leve pro outro lado, me faça conhecer o mundo, as melhores pessoas, os gostos mais fortes. eu quero que ele pegue o lápis e me faça feliz, encontrar minha paz e um amor pra vida inteira! e, quero mais, quero que ele acabe com esse amor e com essa paz, me deixe insana, sem paredes de espuma pra me proteger. que ele me deixe cair e depois me levante lentamente, com as pernas ainda quebradas, e me coloque pra fora da ostra de novo. que me mostre um mundo diferente, esquisito, de cabeça pra baixo. que me faça sentir de verdade. eu quero que o roteirista deixe de preguiça e me invente um rumo novo, desconhecido, um lugar inabitado, que ele faça de outro jeito dessa vez. eu quero mudança, carinho, proteção e desastre. eu quero cair, levantar, escorregar de bunda no tobogã da vida, bater cabeça, entrar em coma e viajar dentro de mim mesma. depois eu quero sair de lá, acordar num sonho pra entender que os pesadelos tiveram uma razão de ser. eu quero que o roteirista levante o traseiro da cama, pegue uma xícara de café, sente em frente a máquina e escreva assim 'ela acordou no dia seguinte e notou que tudo estava diferente. ele a estava esperando (na porta do dentista, no ponto de ônibus, na lanchonete da faculdade, no cabeleireiro, na savana, na aula de snowboard, no quinto dos infernos...) só pra mostrar que ela não precisava de nada de novo, muito menos dele pra ser feliz. então, ela sorriu, mas, no fundo, já sabia disso há muito tempo...'



sabe, hoje eu acordei sentindo falta de ficar boba, de chorar, de ter vontade de ligar, de ligar e depois desligar. de ficar pensando no futuro, de ficar pensando no passado, de ficar pensando no presente que você me deu de repente. de pensar nas alegrias sem fim, nas tristezas rápidas, nas alegrias rápidas e nas tristezas sem fim, de me perder te olhando dormir, de me perder vendo que você já tinha acordado e ainda tava do meu lado. de ler as mensagens repetidas vezes, de ouvir suas besteiras, suas brincadeiras, suas implicâncias, suas palavras nem-sempre-tão-afetuosas-assim. de saber que você sabia qual era o meu perfume, o lado em que eu preferia dormir, quando eu tava triste, quando eu não queria falar, quando eu tava magoada contigo, quando eu só queria um abraço e quando eu queria algo mais. eu sinto falta de ficar louca, de me perguntar sobre o amanhã, de encontrar um verso que combinasse com a nossa história em cada música brega da rádio. de ter medo que acabasse, de ter medo que desse certo, de ter medo que continuasse do mesmo jeito, de ter medo de dizer alguma coisa que pudesse te magoar, de dizer alguma besteira que te fizesse rir de mim. eu sinto falta de sentir o coração bater rápido demais, devagar demais, estranho demais, fora do ritmo, de ficar fora de órbita. de, de repente, olhar pro lado, encontrar seu olhar e sentir como se tivesse uma pedra de gelo no lugar onde o estômago deveria estar. de sentar na areia, de ficar vendo o mar, as estrelas, os carros, os navios, as pessoas, os caranguejos, os amigos, a vida passando, seu cabelo cobrindo a sua cabeça gigante, que sempre estava lá, deitada no meu colo. de brigar com você pra colocar meu cd no som, por um pirulito, um pedaço de bolo, só pra ter uma desculpa de ficar encostada em você. eu sinto muita falta de você me decifrando, me entendendo, me deixando sem jeito, me perguntando por que minha respiração ficava estranha quando eu estava perto de você. eu sinto falta de você falando difícil, dizendo que a vida não era tão interessante sem matemática, que ketchup na pizza era crime e que eu não deveria usar o óculos no cabelo porque parecia que eu tinha duas cabeças. eu sinto falta de você sendo grosso, gentil, honesto, amigo, cúmplice, idiota, encrenqueiro, cavalheiro, confidente. eu sinto falta de perder a hora, a cabeça, o medo, a vontade de comer, o sono, você pra outra pessoa e até o último ônibus só pra poder te dar mais um beijo...

de que vale o forró?
(de que vale o forró?)
de que vale o quentão?
(de que vale o quentão?)
de que vale a languidez
do são joão ão ão? ♪

boboquices do ócio. (Y)