March 01, 2008

Clarice acordara com o barulho da CHUVA batendo em sua JANELA. Não levou muito tempo para perceber que aquele dia não seria um dos melhores. O primeiro pensamento que veio à sua mente, naquela manhã cinzenta de domingo, foi a terrível briga que tivera com seu namorado no dia anterior. Decidiu que precisava organizar os pensamentos no papel, escrever em uma carta tudo o que pretendia dizer a ele, mas, pessoalmente, não teria coragem. Levantou-se, foi até a escrivaninha, muniu-se com lápis e papel e começou...
'Bom dia, ex-namorado, me causa um grande SOFRIMENTO escrever esta carta, mas ela tinha que ser escrita. Em primeiro lugar, gostaria de avisar aqui que você não é mais meu namorado. TALVEZ você não tenha entendido a dica que eu dei ao começar a carta com um 'bom dia, ex-namorado'. Mas TUDO bem, você sempre foi meio desprovido de INTELIGÊNCIA... Pelo mesmo motivo, vou evitar usar palavras mais elaboradas como 'IMPRETERIVELMENTE' ou 'CONCOMITANTE', não vou te mandar 'ósculos' em vez de 'beijos'. Às vezes, eu me pergunto como consegui perder tantos meses com uma pessoa que não descobriu os prazeres da fabulosa arte da prolixidade. Trocando em miúdos, eu não consigo entender como eu passei tanto tempo com um cara burro como você. Talvez você esteja se perguntando por que eu tomei essa drástica decisão, calma. Vou, detalhadamente, explicar cada um dos motivos que me levaram à ela (aconselho que se sente, você é tão cheio de defeitos que eu acho que vai levar um tempinho até que eu liste todos eles). Pra começar, você nunca foi um bom namorado. Talvez tenha soado meio duro, né? Só que você não é mais nada meu, eu não preciso medir as palavras (ah, se você soubesse quanta ALEGRIA isso me dá...). Como é que você volta da viagem que fez no CARNAVAL e nem liga pra dizer que está bem? Eu fiquei preocupada, pensei que você tivesse sofrido um acidente, que estivesse no hospital correndo risco de VIDA, precisando de alguém pra doar sangue. Eu ia doar sangue, sabia? Mesmo tendo pavor a ver aquele líquido VERMELHO passando pelas cânulas, eu teria doado por você... (teria, porque se a sua SAÚDE depender de mim de hoje em diante, considere-se um CACHORRO morto). Enquanto eu me preocupava, você estava em uma FESTA, todo queimado do SOL, dando em cima da Bia (é, eu soube, amigão!). Implicava com minha AMIZADE com os meninos, mas era o primeiro a dar umas voltinhas fora da cerca, né?
Eu tentei, pôxa, eu juro que eu tentei... Eu tentei fazer você mudar; eu tinha FÉ em Deus que, um dia, você iria mudar; eu tentei me acostumar com a idéia de que você não ia mudar; eu tentei fazer você entender que eu odeio CHOCOLATE... sem SUCESSO. Você continuou sendo o mesmo imbecil de sempre, eu continuei acreditando que você seria diferente e você continuou me dando chocolates a cada data comemorativa. Que raiva, que raiva! Você bagunçava meu QUARTO, tirava meus cds da ORDEM alfabética, andava com os pés sujos de areia na CASA de PRAIA. Como eu te agüentei por tanto tempo? Eu deveria ter escutado meus AMIGOS.
Você era ciumento, não me deixava em PAZ, não me ouvia, me tratava como se eu fosse sua escrava. Agia como um faraó enclausurando em sua PIRÂMIDE NORMAL, enquanto a serva aqui fazia tudo o que você ordenava. Agora eu olho pela janela e o ódio por você, PAULATINAMENTE, me corrói. A vontade que eu tenho é de tacar um PARALELEPÍPEDO na cabeça da irritante da minha vizinha, que não pára de gritar. A voz esganiçada da imbecil, me lembra a da dubladora da babaca filha do pastor daquele filme que você me obrigou a assistir em português porque é estúpido demais pra acompanhar a legenda.
ENTRETANTO, eu não posso mentir... Talvez, eu sinta um pouco de SAUDADE de você, do CARINHO que você fazia na minha orelha até que eu dormisse, dos SONHOS que a gente tinha de envelhecer juntos... Até hoje eu morro de rir quando eu lembro da COCA-COLA que eu derrubei na sua camiseta no dia em que a gente se conheceu. Acho que outro cara teria me matado, mas você foi tão legal, viu que eu só fiz aquilo porque ficava nervosa com a sua BELEZA, foi bonitinho da sua parte. Também acho bonitinho quando você briga comigo porque eu não ESTUDO, quando eu não como a salada da minha MÃE, quando você pega o VIOLÃO e toca alguma MÚSICA que eu gosto. Foi legal naquele dia que você me levou pra ver a lua cheia iluminando o MAR e me pediu em namoro...'
Quando chegou a esse ponto da carta, seus olhos já estavam vermelhos de tanto chorar. Tinha CERTEZA de que se arrependeria se dissesse tudo aquilo, afinal de contas, ele nem era tão ruim assim. QUASE todos os defeitos eram só implicância. Ele nem tinha dado em cima da Bia, coitado. Passou a festa toda dormindo com a cabeça apoiada em um LIVRO, num canto do quarto. A maior parte dos problemas era resultante de uma falha de COMUNICAÇÃO entre os dois, nada que não pudesse ser facilmente resolvido com uma boa conversa. Aliás, se ela desse o primeiro passo, já seria um grande PROGRESSO. Clarice respirou fundo, amassou a carta e a jogou no lixo. Pegou seu telefone, discou os números tão ansiosa que quase não conseguiu acertar a combinação:
- Amor?


(minha pequena redação tosca). :D

February 27, 2008

existem riscos que não podemos correr;
outros que não podemos deixar de correr, meu bem.
o universo é gigante de mais pra rolar um dado ao acaso.

(já disse que o sandro é um gênio?)