April 23, 2008


lá estavam todos aqueles humanos reunidos, entediados, querendo encontrar algo em que valesse apenar focar todo o excedente de atenção. eis que surge uma lagarta? minhoca? minicobra? quem se importa? torce, contorce, retorce. um... passo?! contorce, retorce, torce. outro. e a lagarta se dana a atravessar a rua. interessante como um ser usualmente tão insignificante se torna foco. rasteja como pode até o meio da pista, enquanto todos aqueles estranhos a seguem com o olhar e uma pontada de aflição. vem vindo o primeiro carro...
- ai, meu deus, morreu a lagarta!
- não, ela tá bem! que esperta!
e a lagarta continua na jornada em busca de lugar algum. contorce, torce, mexe mais um pouco. outro carro.
- agora ela já era, não é possível.
- não, ainda tá viva, olha lá.
ainda encolhida, olha pra um lado, pro outro e segue em frente (metaforicamente. se é precisão o que você quer, ela seguia em diagonal. uma pobre rastejante sem-rumo). mais um carro.
- do terceiro, ela não escapa, né?
- não, minha filha, ela ainda está viva!
nisso, um pedestre desavisado vai chegando, chegando, chegando e onomatopéia de lagarta sendo esmagada por humano. metade de um tênis fez o que doze rodas não fizeram: adeus lagarta! e eu segui meu caminho tentando encontrar um significado maior para o triste fim da falecida (e, ainda por cima, uma maneira de segurar todo o líquido contido na minha bexiga até que o ônibus parasse no ponto e eu finalmente chegasse em casa).