August 01, 2009

ao vê-lo na entrada do bar pôde sentir verdadeiras descargas elétricas através de cada milimetro do corpo. era como se estivesse sambando descalça numa poça d'água agarrada a um fio de alta tensão. sentia ondas de frio e de calor, tremia, e não conseguia tirar aquele sorriso - embora a descrição mais justa fosse 'espasmo bucal' - do rosto. toda mulher teria a mesma reação frente a ele.
era uma combinação da maldita inocência que as sardas proporcionam com um sorriso de cafajeste. ah, homens com cara de cafajeste... desde criança sempre apreciara um bom cafajestezinho. daqueles que roubavam as bonecas, que batiam, que colocavam apelidos constrangedores. não conseguia se lembrar de ter se apaixonado por algum tipinho com cara de boboca. sempre cafajestes! tão deliciosos... como as comidas mais gostosas, sempre faziam mal no fim das contas, mas nada era mais satisfatório que lidar com um. agora entendia porque simplesmente o número de gays havia triplicado nas últimas duas décadas: tinha a certeza de que estava concentrada ali toda a testosterona do mundo. e isso a fazia cravar as unhas nas pernas e sentir cada pelinho que lhe cobria se eriçar. na hora de se despedir, teve que controlar todos os malditos impulsos, embora pudesse jurar que mais malditos que os impulsos só o senso de comportamento que lhe impedia de agarrá-lo. e quem disse que um beijinho na testa valia menos que uma noite com um homem? respirou fundo e viu aquela figura diabolicamente divina dando meia volta e indo embora.
sobre o fim ou mas também não é pra tanto...

eu não me lembro perfeitamente do fim de cada relacionamento, paixonite ou situação-indefinida que eu tive. até porque - darwin que me perdoe se eu estiver falando besteira - deve ser necessário, pra evoluir, esquecer tudo aquilo que machucou na hora, mas não serviu pra muita coisa. mas existem 'fins' que eu sei, eu sei bem, que mesmo que eu reencarne numa tartaruga gigante daquelas que vivem bem pra lá dos 100 anos, eu nunca vou esquecer. (...) há fims que ainda machucam e precisam ficar enterrados, até apodrecer, pra só depois a gente cavar fundo e brincar com as ossadas. o fato é que é mais ou menos isso. você vai até o fim do poço e da picada. num estado de delírio emocional profundo, começa a concordar com alexandre pires quando ele canta 'é a dor mais funda que a pessoa pode ter'. chora. não come ou come demais. não dorme ou dorme demais. quer beber, quer se jogar do brêda ou da ponte do reginaldo, quer sumir do mundo. quer ligar e dizer que foi um erro. e não quer falar com ninguém. tudo isso ao mesmo tempo. e tudo isso é muito pra um coração partido em 719,2 pedaços (sim, eu contei!) processar. mas o fato é que ele vai se reunindo. às vezes, aos poucos. às vezes, mais rápido do que você poderia imaginar. o coração é que nem um vampiro morto a dentadas (antes de pegar fogo!). não consegui pensar em outra metáfora. o que eu quero dizer é que o coração é forte e capaz de se ajeitar sozinho, é só uma questão de você dar chances pra que ele faça isso. quando ele estiver reabilitado e só sobrarem cicatrizes e uma ou duas rachaduras, você vai ver que agiu feito thalia quando perdeu seu filho e a memória. lágrimas demais por uma novela de baixo-orçamento! erga a cabeça, reconstrua a choupana e passe pra outra. você vai sofrer tudo de novo, mas agora, pelo menos, você já sabe que é capaz de sobreviver!
a esperança é um cacto. você olha ao redor, tudo é deserto. nem sinal de água, nem sinal de ninguém. e ela continua lá, resistindo. é um cacto, daqueles de braços abertos pro nada, querendo que um louco qualquer se arrisque ao abraço. às vezes, dá até flor. e só pede, em troca, que você espere junto com ela, que crie raízes, que se prenda ali. um cacto. e eles machucam.
é cedo e eu não consigo dormir. mas não consegui mesmo quando era tarde. me falta sono, palavras, certezas, um balde d'água, um extintor, um exorcista, um alicate. qualquer coisa que me aliene, alivie ou apague. que arranque de mim esse maldito ponto que cresce mesmo sem luz, sem ar e sem vontade. que vai se arrastando pelos dias afora e que me arrasta junto. pra perto, mesmo longe, de você.